terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Verdades

Você vai viajar e vai dar over-booking, vai ter excesso de bagagem, o vôo vai atrasar, vai ter turbulência, vai ter alguém chato sentado ao seu lado, vai perder bagagem, vai encalacrar na imigração, vão encrencar na receita federal, vai tomar facada do taxista, vai ter pulga no seu lençol, vai ter diarréia registrada no seu diário...
E saudades também.

E vai viajar de novo.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Falar e mostrar o Kenya

Michael, ou Akech, paizão keniano, sábio, viajado, comilão, reclamão, inteligente demais


Com os pais, Michael e Jane

Amigo do Michael, cujo nome esqueci, sob a sua neem tree. Tanto as folhas como o caule dessa árvore são usados pelos nativos para curar tudo, de malária a dor de cabeça, de dor de corno a pedra no rim.


A saga do painel solar, contada alguns posts abaixo. Prova do crime. Ou da benção. Ainda (até agora, acredite) não sei.


Bateria e tomadas, com as luzinhas em baixo...

A primeira impressão de Jane ao ver luz an sua sala.
Vamo abrir um business?

Igreja, família. Sunday's best.

Fred e eu. Esse menino é muito especial. Acho que contei a historia dele aqui. A mãe foi assassinada em condições estranhas no vilarejo longíquo onde moravam. Ele e as três irmãs se dispersaram. Por alguma razão que eu não entendi, Michael conhecia a mãe dele, e o adotou. Fred é quem cuida da casa dos Odula em Homa Bay, como uma verdadeira dona de casa. Tem dotes aguçados para temperar e faz uma carne de panela excelente! Tudo isso num fogareirozinho a carvão, super pequenino. Antes de chegar em H-Bay, aos 16 anos, nunca havia visto um mzungo. Se recorda de perguntar a amigos se turcos e indianos eram mzungos, a resposta: "Não, quando você vir um, você vai saber"

RG do Fred. Repare na data de nascimento. E aí, o que é mais complicado, nascer dia 29 de fevereiro ou não saber quando é seu aniversário?

Minhas salas de aula... não curto essas grades.

Isso é coisa do Michael, quando foi diretor por lá durante 20 anos.

My job.

Se tem que ir pra algum lugar, tem que sair antes da chuva. 67km da Linha do Equador, amigo, chove legal aqui.


Esse é o Evance, meu irmão do meio com o filhinho dele. Tava uma escuridão na casa, mas tentei não usar flash, sob risco da foto ficar assim... tampis

Uma vaquinha no shopping center de Kaswanga, caminho pra escola.

Os caras mataram a menina, mas tavam borrados de medo. Depois de morta é só piada pra foto.

Do lado de casa. Mas confesso que não noiei. Tem tanto bode, rato, galinha mais interessante do que eu...

Tipo pardal de lá. Tá bom ou quer mais?

A cabra dalmata.

Creche ao lado de casa. Repara no garotão aí da frente como ele tá afim de aprender o alfabeto. A maior parte dessas crianças é orfã de pai e mãe, uma realidade comum demais por lá.

Lembra da galinha que chocava na melhor poltrona da sala?

Isso é mandassi, uma friturinha com consistência de bolinho de chuva, mas sem canela.

Esse é Amburu, o medrosinho fofo. Mais histórias dele mais pra frente.

Esse é o pequeno vizinho Brian, no meu primeiro dia. Mal sabia eu que ele seria meu unico motivo de estresse por lá. Ele e um amigo mais velho tinham por diversão maior a brincadeir de capturar passarinhos, quebrar-lhes as asas e ficar jogando-os para cima e velos cair. Riam de se mijar. Quando eu vi isso comecei uma campanha que deveria ter sido mais Capitão Nascimento style, porque um pouco antes de eu vir ele fez questão de quebrar uma asa bem na minha frente, foi instintivo, não deu... dei-lhe uma bicuda na bunda, pois não aguentava mais explicar que aquilo não se faz. Se fosse o Nascimento já tinha é quebrado um braço logo.

É assim que se viaja de Homa Bay até Rusinga Island. Éramos 14 nesse Corolla Wagon. 4 no banco da frente. Aqui o motorista senta no colo de um dos passageiros. E depois eu ainda tenho que ouvir nego reclamando de andar com 3 ou 4 no banco de trás.

Volta da escola.

A Skol do Kenya. Uma só durante toda a viagem. Ué, sem luz, eu prefiro abstinência do que cerveja quente, você não?

...

domingo, 21 de dezembro de 2008

É mole ou quer mais

Para quem acha que minha trip foi roots, copio abaixo email que recebi da minha amiga Andrea Nemoto, vulgo Deca, direto do Nepal.

PS A: Turquia, India e Nepal sozinha.
PS B: As singelas fotos do Kenya estão sendo selecionadas.
____

From: Andrea Nemoto
Date: 2008/12/20
Subject: Completei!


Oi a todos!
Mta saudade e mta historia pra contar apos caminhar por 18 dias, 211km, comecando de 800m chegando a 5416m, voltando a 1190m, subindo de novo a 3200 e descendo no mesmo dia a 1000m, acabando finalmente em 884.
Ufa!
Foi com certeza uma das experiencias mais incirveis da minha vida e desafiadoras tb. Mtas vezes pensei q nao ia aguentar, mas segui em frente e completei!

Confesso q nao foi facil, com noites mal dormidas por causa da altitude ou do frio (sim, uma noite a agua chegou a congelar no meu quarto e mtas vezes a agua estava congelada para escovar os dentes), respirando feito uma louca, acordando as 3:30 da manha para subir mil metros entre 4450m (onde dormi uma noite), ate o Thorung La Pass, ha 5416m e depois descer 1600m ateh Muktinath (3800m), tudo isso no mesmo dia. Um pouco de dor de cabeca, mtoooo frio (talvez -30 graus) e as pernas bambas. Sem contar nos dois seguintes dias sem quase poder caminhar, mas caminhando por 7, 8 hrs. Mas o pior eu acho q foi o ultimo dia, qndo subi de 2800m a 3200m e depois desci a 1000m e pela primeira vez na historia tive q concordar com meu guia e descordar do ditado q "para baixo td o santo ajuda". Nem sempre.
Nesse trekking aprendi q nem sempre descer eh melhor q subir e fiquei maravilhada com a alegria e simplicidade desse povo q faz td caminhando (sim eu tb vi dois poters - pessoas q carregam peso - carregando uma televisao e uma geladeira morri acima). Alem de cenarios lindos e um mar de montanhas gigantescas (q de 5416m nem pareciam tao grandes assim). Tb passei pelo vale mais fundo do mundo e eh lindo!

Foi uma experiencia maravilhosa q nunca esquecerei, mas bom tb estar de volta a civilizacao, nao ter q dormir em um quarto de madeira, qndo se estah -20 graus lah fora (pobre das pessoas q moram nesses lugares) e principalmente, lavar minhas roupas!
Agora ficarei mais uns 3 dias em Pokhara (onde estou) e depois mais um ou dois dias em Kathmandu e back to Europe.
Faltam 17 dias para estar aih com vcs e a saudade soh aumenta!
Bjos e amo vcs!

sábado, 20 de dezembro de 2008

Voto de Boas Festas

Reproduzindo piadinha infame do Marcio, queria desejar tudo de bom nesses últimos dias de 2008, ano tão especial para mim. A todos que já deixaram suas boas energias seja por aqui ou por e-mail.

Fiquem com DEUS, tudo do mais fino para vocês.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Personal choffeur da casa

Chegado, São Paulo, telefone celular.
Quanta gente pra falar, ninguém pra falar.

Tentando organizar há 11 dias a minha mochila. Tentando.
Tentando baixar fotos e o iPhoto travando.
Tentando organizar meus arquivos bagunçadérrimos no Mac HD.
Tentando listar meus afazeres.

E os carros se multiplicaram, por Deus!
E eu fui convocado para ser o choffeur da casa nesses ultimos dias.
Até meu pai no banco de trás eu levei.

Tentando fazer uma nova seleção de fotos para colocar aqui.
Tentando.
Mas eu vou conseguir, o bodinho passa depois de duas cervejas.

Boa primeira Sexta-feira", com S maiúsculo, desde que cheguei.
O buteco sussurra baixinho: vem...
Boa sexta feira pra você!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Sobre voltar e ressuscitar

De repente estava ali dentro do avião sentado ao lado de uma velhinha com um bafo monumental. Tentei socializar, ser educado, mas vi que eu não conseguiria encarar. De repente, meio Lexotan, que tal? O 747 da Lufthansa toca Cumbica. De repente estou de volta. De repente está tudo estranho. Uma estranheza familiar. Uma alegria esquisita.

Depois escrevo mais.

PS a: de repente alguém me viu andando de bicicleta pela zona oeste. De repente a pessoa deixa um comentário anônimo no blog. E eu, que queria passar anônimo por aí descubro que não posso nem pedalar mais irreconhecido num sábado de mormasso pela Z.O.

PS b: Aham, tá sendo difícil escrever aqui desde que tornei. Mas ainda tenho uma pá de foto pra pôr e textos e idéias e conclusões e outras coisas prolixas, mas que andam devagar por preguicinha...
Sinto dizer, mas acho que a morte iminente deste brogzinho está anunciada. Alguém tem um desfibrilador?
(comentaí!)

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

"Smile, you've been in Kenya!"

Era essa a mensagem que ostentava um outdoor na entrada do aeroporto internacional Jomo Kenyatta*, em Nairobi. Parece-me uma coisa bem plagiada do aeródromo de Porto Seguro, fiquei esperando a minha fitinha do Bonfim. Foi uma alegria imensa chegar ao único lugar em Nairobi onde me sentia seguro. A cidade é ironicamente celebrada pelos viajantes como "Nairobbery", pelo calor com que os turistas são recebidos pelos meliantes. Crescido em Sampa, com 6 assaltos no currículo, viajando e cuidando de mim mesmo por mais de 7 meses, confesso nunca ter me sentido tão ameaçado/visado/alvo quanto em Nairobi. Considerada por muitos viajantes como a capital mais perigosa do continente africano, a capital queniana supostamente supera rivais de peso, como Lagos e Johannesburg.

Bom, mas o que importa é que cheguei em paz ao aeroporto. Que tomei as duas únicas cervejas em um mês. Que bati um ótimo papo-contraste com um jovem executivo da transportadora TNT recém chegado de Dubai e que buscava o sucesso a qualquer custo. Só falava das estratégias de como massacrar o chefe, subir rápido na vida e se aposentar aos 42 anos. Mas tinha sensibilidade suficiente para ouvir minhas opiniões contrárias, apelos de desaceleração dos desejos e ambição. No respeito, numa boa.

Na real, o Kenya foi assim comigo: no respeito, numa boa. Eu sempre tentando entender o que era tudo à minha volta e o povo tentando entender que meu nome era Felipe e não Mzungo. Que eu não era um banco americano de financiamento (leia-se bolso sem fundo), mas alguém que queria entender como era a vida e o que eles pensavam. Que queria sacar eles melhor, que prefere perguntar do que responder.

Um país generoso, que me alimentou de realidade e esperança, me mostrou alguns segredos, desmistificou tabus. Não sei como, mas não passei mal nem uma vez naquela terra, sem doenças, só resfriado. Depois de um tempo eu já não era mais atração quando cruzava a ruinha principal da cidade, adorava quando nem me notavam, quando era só mais um no campo de futebol.

Eu fui. I've been.
E volto.

*Jomo Kenyatta foi o pai da independência do país, em 1963, o líder-mor da nação. Engraçado o paralelo da sigla JK com John F. Kennedy e Juscelino Kubitschek. Ou seja, se quiser ficar marcado na história de um país, escolha nascer sob uma sigla que traga sorte.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

E mata o pau


Lembram da tal foto do Estádio de Atenas?
Achei.
Tá vendo o pontinho vermelho?

Pensar um pouco?

Texto que tem tudo a ver com minha viagem, com a Africa, com o que vi e sinto. Recebi da Mari Bachiega, a "Amiga da 25 de Março", e foi escrito pelo Neto, diretor de criação e sócio da agência de propaganda Bullet, de São Paulo.

"Vou fazer um slideshow para você.
Está preparado?

É comum, você já viu essas imagens antes.
Quem sabe até já se acostumou com elas.
Começa com aquelas crianças famintas da África.
Aquelas com os ossos visíveis por baixo da pele.
Aquelas com moscas nos olhos.

Os slides se sucedem.

Êxodos de populações inteiras.
Gente faminta.
Gente pobre.
Gente sem futuro.

Durante décadas, vimos essas imagens.

No Discovery Channel, na National Geographic, nos concursos de foto.
Algumas viraram até objetos de arte, em livros de fotógrafos renomados.
São imagens de miséria que comovem.
São imagens que criam plataformas de governo.
Criam ONGs.
Criam entidades.
Criam movimentos sociais.

A miséria pelo mundo, seja em Uganda ou no Ceará, na Índia ou em
Bogotá sensibiliza.
Ano após ano, discutiu-se o que fazer.
Anos de pressão para sensibilizar uma infinidade de líderes que se
sucederam nas nações mais poderosas do planeta.

Dizem que 40 bilhões de dólares seriam necessários para resolver o
problema da fome no mundo.

Resolver, capicce?
Extinguir.

Não haveria mais nenhum menininho terrivelmente magro e sem futuro, em
nenhum canto do planeta.
Não sei como calcularam este número.
Mas digamos que esteja subestimado.
Digamos que seja o dobro.
Ou o triplo.
Com 120 bilhões o mundo seria um lugar mais justo.

Não houve passeata, discurso político ou filosófico ou foto que sensibilizasse.
Não houve documentário, ONG, lobby ou pressão que resolvesse.

Mas em uma semana, os mesmos líderes, as mesmas potências, tiraram da
cartola 2.2 trilhões de dólares (700 bi nos EUA, 1.5 tri na Europa)
para salvar da fome quem já estava de barriga cheia. Bancos e
investidores.

Como uma pessoa comentou, é uma pena que esse texto só esteja em blogs
e não na mídia de massa, essa mesma que sabe muito bem dar tapa e
afagar.

Se quiser, repasse, se não, o que importa?

O nosso almoço tá garantido mesmo...