segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

"Smile, you've been in Kenya!"

Era essa a mensagem que ostentava um outdoor na entrada do aeroporto internacional Jomo Kenyatta*, em Nairobi. Parece-me uma coisa bem plagiada do aeródromo de Porto Seguro, fiquei esperando a minha fitinha do Bonfim. Foi uma alegria imensa chegar ao único lugar em Nairobi onde me sentia seguro. A cidade é ironicamente celebrada pelos viajantes como "Nairobbery", pelo calor com que os turistas são recebidos pelos meliantes. Crescido em Sampa, com 6 assaltos no currículo, viajando e cuidando de mim mesmo por mais de 7 meses, confesso nunca ter me sentido tão ameaçado/visado/alvo quanto em Nairobi. Considerada por muitos viajantes como a capital mais perigosa do continente africano, a capital queniana supostamente supera rivais de peso, como Lagos e Johannesburg.

Bom, mas o que importa é que cheguei em paz ao aeroporto. Que tomei as duas únicas cervejas em um mês. Que bati um ótimo papo-contraste com um jovem executivo da transportadora TNT recém chegado de Dubai e que buscava o sucesso a qualquer custo. Só falava das estratégias de como massacrar o chefe, subir rápido na vida e se aposentar aos 42 anos. Mas tinha sensibilidade suficiente para ouvir minhas opiniões contrárias, apelos de desaceleração dos desejos e ambição. No respeito, numa boa.

Na real, o Kenya foi assim comigo: no respeito, numa boa. Eu sempre tentando entender o que era tudo à minha volta e o povo tentando entender que meu nome era Felipe e não Mzungo. Que eu não era um banco americano de financiamento (leia-se bolso sem fundo), mas alguém que queria entender como era a vida e o que eles pensavam. Que queria sacar eles melhor, que prefere perguntar do que responder.

Um país generoso, que me alimentou de realidade e esperança, me mostrou alguns segredos, desmistificou tabus. Não sei como, mas não passei mal nem uma vez naquela terra, sem doenças, só resfriado. Depois de um tempo eu já não era mais atração quando cruzava a ruinha principal da cidade, adorava quando nem me notavam, quando era só mais um no campo de futebol.

Eu fui. I've been.
E volto.

*Jomo Kenyatta foi o pai da independência do país, em 1963, o líder-mor da nação. Engraçado o paralelo da sigla JK com John F. Kennedy e Juscelino Kubitschek. Ou seja, se quiser ficar marcado na história de um país, escolha nascer sob uma sigla que traga sorte.

3 comentários:

Anônimo disse...

Oi Felipe!

Onde você está agora?
Ainda está em Londres?
Mande-nos novas imagens e notícias...se for possível!
um abraço,
Gisela

Anônimo disse...

Dear Mr.Mzungo,

One of my operatives has reported spotting you whilst riding a bicycle in a remote area of Sao Paolo, Brazil. Is there any substance to this information? If so, I kindly urge you to contact your old mates in the advertising business and give them your new mobile phone number and other details as appropriate.

Cheers,

Inspector J. Kenyatta

PS - Congratulations on a job well done!

Felipe Mortara disse...

Dear Mr.Kenyatta,

Your information is probably wrong because I was not in a remote area but in a very noble one.

;-)
Really hope to see you soon.
On thursday, probably.

Best regards,
F.