terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Verdades

Você vai viajar e vai dar over-booking, vai ter excesso de bagagem, o vôo vai atrasar, vai ter turbulência, vai ter alguém chato sentado ao seu lado, vai perder bagagem, vai encalacrar na imigração, vão encrencar na receita federal, vai tomar facada do taxista, vai ter pulga no seu lençol, vai ter diarréia registrada no seu diário...
E saudades também.

E vai viajar de novo.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Falar e mostrar o Kenya

Michael, ou Akech, paizão keniano, sábio, viajado, comilão, reclamão, inteligente demais


Com os pais, Michael e Jane

Amigo do Michael, cujo nome esqueci, sob a sua neem tree. Tanto as folhas como o caule dessa árvore são usados pelos nativos para curar tudo, de malária a dor de cabeça, de dor de corno a pedra no rim.


A saga do painel solar, contada alguns posts abaixo. Prova do crime. Ou da benção. Ainda (até agora, acredite) não sei.


Bateria e tomadas, com as luzinhas em baixo...

A primeira impressão de Jane ao ver luz an sua sala.
Vamo abrir um business?

Igreja, família. Sunday's best.

Fred e eu. Esse menino é muito especial. Acho que contei a historia dele aqui. A mãe foi assassinada em condições estranhas no vilarejo longíquo onde moravam. Ele e as três irmãs se dispersaram. Por alguma razão que eu não entendi, Michael conhecia a mãe dele, e o adotou. Fred é quem cuida da casa dos Odula em Homa Bay, como uma verdadeira dona de casa. Tem dotes aguçados para temperar e faz uma carne de panela excelente! Tudo isso num fogareirozinho a carvão, super pequenino. Antes de chegar em H-Bay, aos 16 anos, nunca havia visto um mzungo. Se recorda de perguntar a amigos se turcos e indianos eram mzungos, a resposta: "Não, quando você vir um, você vai saber"

RG do Fred. Repare na data de nascimento. E aí, o que é mais complicado, nascer dia 29 de fevereiro ou não saber quando é seu aniversário?

Minhas salas de aula... não curto essas grades.

Isso é coisa do Michael, quando foi diretor por lá durante 20 anos.

My job.

Se tem que ir pra algum lugar, tem que sair antes da chuva. 67km da Linha do Equador, amigo, chove legal aqui.


Esse é o Evance, meu irmão do meio com o filhinho dele. Tava uma escuridão na casa, mas tentei não usar flash, sob risco da foto ficar assim... tampis

Uma vaquinha no shopping center de Kaswanga, caminho pra escola.

Os caras mataram a menina, mas tavam borrados de medo. Depois de morta é só piada pra foto.

Do lado de casa. Mas confesso que não noiei. Tem tanto bode, rato, galinha mais interessante do que eu...

Tipo pardal de lá. Tá bom ou quer mais?

A cabra dalmata.

Creche ao lado de casa. Repara no garotão aí da frente como ele tá afim de aprender o alfabeto. A maior parte dessas crianças é orfã de pai e mãe, uma realidade comum demais por lá.

Lembra da galinha que chocava na melhor poltrona da sala?

Isso é mandassi, uma friturinha com consistência de bolinho de chuva, mas sem canela.

Esse é Amburu, o medrosinho fofo. Mais histórias dele mais pra frente.

Esse é o pequeno vizinho Brian, no meu primeiro dia. Mal sabia eu que ele seria meu unico motivo de estresse por lá. Ele e um amigo mais velho tinham por diversão maior a brincadeir de capturar passarinhos, quebrar-lhes as asas e ficar jogando-os para cima e velos cair. Riam de se mijar. Quando eu vi isso comecei uma campanha que deveria ter sido mais Capitão Nascimento style, porque um pouco antes de eu vir ele fez questão de quebrar uma asa bem na minha frente, foi instintivo, não deu... dei-lhe uma bicuda na bunda, pois não aguentava mais explicar que aquilo não se faz. Se fosse o Nascimento já tinha é quebrado um braço logo.

É assim que se viaja de Homa Bay até Rusinga Island. Éramos 14 nesse Corolla Wagon. 4 no banco da frente. Aqui o motorista senta no colo de um dos passageiros. E depois eu ainda tenho que ouvir nego reclamando de andar com 3 ou 4 no banco de trás.

Volta da escola.

A Skol do Kenya. Uma só durante toda a viagem. Ué, sem luz, eu prefiro abstinência do que cerveja quente, você não?

...

domingo, 21 de dezembro de 2008

É mole ou quer mais

Para quem acha que minha trip foi roots, copio abaixo email que recebi da minha amiga Andrea Nemoto, vulgo Deca, direto do Nepal.

PS A: Turquia, India e Nepal sozinha.
PS B: As singelas fotos do Kenya estão sendo selecionadas.
____

From: Andrea Nemoto
Date: 2008/12/20
Subject: Completei!


Oi a todos!
Mta saudade e mta historia pra contar apos caminhar por 18 dias, 211km, comecando de 800m chegando a 5416m, voltando a 1190m, subindo de novo a 3200 e descendo no mesmo dia a 1000m, acabando finalmente em 884.
Ufa!
Foi com certeza uma das experiencias mais incirveis da minha vida e desafiadoras tb. Mtas vezes pensei q nao ia aguentar, mas segui em frente e completei!

Confesso q nao foi facil, com noites mal dormidas por causa da altitude ou do frio (sim, uma noite a agua chegou a congelar no meu quarto e mtas vezes a agua estava congelada para escovar os dentes), respirando feito uma louca, acordando as 3:30 da manha para subir mil metros entre 4450m (onde dormi uma noite), ate o Thorung La Pass, ha 5416m e depois descer 1600m ateh Muktinath (3800m), tudo isso no mesmo dia. Um pouco de dor de cabeca, mtoooo frio (talvez -30 graus) e as pernas bambas. Sem contar nos dois seguintes dias sem quase poder caminhar, mas caminhando por 7, 8 hrs. Mas o pior eu acho q foi o ultimo dia, qndo subi de 2800m a 3200m e depois desci a 1000m e pela primeira vez na historia tive q concordar com meu guia e descordar do ditado q "para baixo td o santo ajuda". Nem sempre.
Nesse trekking aprendi q nem sempre descer eh melhor q subir e fiquei maravilhada com a alegria e simplicidade desse povo q faz td caminhando (sim eu tb vi dois poters - pessoas q carregam peso - carregando uma televisao e uma geladeira morri acima). Alem de cenarios lindos e um mar de montanhas gigantescas (q de 5416m nem pareciam tao grandes assim). Tb passei pelo vale mais fundo do mundo e eh lindo!

Foi uma experiencia maravilhosa q nunca esquecerei, mas bom tb estar de volta a civilizacao, nao ter q dormir em um quarto de madeira, qndo se estah -20 graus lah fora (pobre das pessoas q moram nesses lugares) e principalmente, lavar minhas roupas!
Agora ficarei mais uns 3 dias em Pokhara (onde estou) e depois mais um ou dois dias em Kathmandu e back to Europe.
Faltam 17 dias para estar aih com vcs e a saudade soh aumenta!
Bjos e amo vcs!

sábado, 20 de dezembro de 2008

Voto de Boas Festas

Reproduzindo piadinha infame do Marcio, queria desejar tudo de bom nesses últimos dias de 2008, ano tão especial para mim. A todos que já deixaram suas boas energias seja por aqui ou por e-mail.

Fiquem com DEUS, tudo do mais fino para vocês.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Personal choffeur da casa

Chegado, São Paulo, telefone celular.
Quanta gente pra falar, ninguém pra falar.

Tentando organizar há 11 dias a minha mochila. Tentando.
Tentando baixar fotos e o iPhoto travando.
Tentando organizar meus arquivos bagunçadérrimos no Mac HD.
Tentando listar meus afazeres.

E os carros se multiplicaram, por Deus!
E eu fui convocado para ser o choffeur da casa nesses ultimos dias.
Até meu pai no banco de trás eu levei.

Tentando fazer uma nova seleção de fotos para colocar aqui.
Tentando.
Mas eu vou conseguir, o bodinho passa depois de duas cervejas.

Boa primeira Sexta-feira", com S maiúsculo, desde que cheguei.
O buteco sussurra baixinho: vem...
Boa sexta feira pra você!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Sobre voltar e ressuscitar

De repente estava ali dentro do avião sentado ao lado de uma velhinha com um bafo monumental. Tentei socializar, ser educado, mas vi que eu não conseguiria encarar. De repente, meio Lexotan, que tal? O 747 da Lufthansa toca Cumbica. De repente estou de volta. De repente está tudo estranho. Uma estranheza familiar. Uma alegria esquisita.

Depois escrevo mais.

PS a: de repente alguém me viu andando de bicicleta pela zona oeste. De repente a pessoa deixa um comentário anônimo no blog. E eu, que queria passar anônimo por aí descubro que não posso nem pedalar mais irreconhecido num sábado de mormasso pela Z.O.

PS b: Aham, tá sendo difícil escrever aqui desde que tornei. Mas ainda tenho uma pá de foto pra pôr e textos e idéias e conclusões e outras coisas prolixas, mas que andam devagar por preguicinha...
Sinto dizer, mas acho que a morte iminente deste brogzinho está anunciada. Alguém tem um desfibrilador?
(comentaí!)

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

"Smile, you've been in Kenya!"

Era essa a mensagem que ostentava um outdoor na entrada do aeroporto internacional Jomo Kenyatta*, em Nairobi. Parece-me uma coisa bem plagiada do aeródromo de Porto Seguro, fiquei esperando a minha fitinha do Bonfim. Foi uma alegria imensa chegar ao único lugar em Nairobi onde me sentia seguro. A cidade é ironicamente celebrada pelos viajantes como "Nairobbery", pelo calor com que os turistas são recebidos pelos meliantes. Crescido em Sampa, com 6 assaltos no currículo, viajando e cuidando de mim mesmo por mais de 7 meses, confesso nunca ter me sentido tão ameaçado/visado/alvo quanto em Nairobi. Considerada por muitos viajantes como a capital mais perigosa do continente africano, a capital queniana supostamente supera rivais de peso, como Lagos e Johannesburg.

Bom, mas o que importa é que cheguei em paz ao aeroporto. Que tomei as duas únicas cervejas em um mês. Que bati um ótimo papo-contraste com um jovem executivo da transportadora TNT recém chegado de Dubai e que buscava o sucesso a qualquer custo. Só falava das estratégias de como massacrar o chefe, subir rápido na vida e se aposentar aos 42 anos. Mas tinha sensibilidade suficiente para ouvir minhas opiniões contrárias, apelos de desaceleração dos desejos e ambição. No respeito, numa boa.

Na real, o Kenya foi assim comigo: no respeito, numa boa. Eu sempre tentando entender o que era tudo à minha volta e o povo tentando entender que meu nome era Felipe e não Mzungo. Que eu não era um banco americano de financiamento (leia-se bolso sem fundo), mas alguém que queria entender como era a vida e o que eles pensavam. Que queria sacar eles melhor, que prefere perguntar do que responder.

Um país generoso, que me alimentou de realidade e esperança, me mostrou alguns segredos, desmistificou tabus. Não sei como, mas não passei mal nem uma vez naquela terra, sem doenças, só resfriado. Depois de um tempo eu já não era mais atração quando cruzava a ruinha principal da cidade, adorava quando nem me notavam, quando era só mais um no campo de futebol.

Eu fui. I've been.
E volto.

*Jomo Kenyatta foi o pai da independência do país, em 1963, o líder-mor da nação. Engraçado o paralelo da sigla JK com John F. Kennedy e Juscelino Kubitschek. Ou seja, se quiser ficar marcado na história de um país, escolha nascer sob uma sigla que traga sorte.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

E mata o pau


Lembram da tal foto do Estádio de Atenas?
Achei.
Tá vendo o pontinho vermelho?

Pensar um pouco?

Texto que tem tudo a ver com minha viagem, com a Africa, com o que vi e sinto. Recebi da Mari Bachiega, a "Amiga da 25 de Março", e foi escrito pelo Neto, diretor de criação e sócio da agência de propaganda Bullet, de São Paulo.

"Vou fazer um slideshow para você.
Está preparado?

É comum, você já viu essas imagens antes.
Quem sabe até já se acostumou com elas.
Começa com aquelas crianças famintas da África.
Aquelas com os ossos visíveis por baixo da pele.
Aquelas com moscas nos olhos.

Os slides se sucedem.

Êxodos de populações inteiras.
Gente faminta.
Gente pobre.
Gente sem futuro.

Durante décadas, vimos essas imagens.

No Discovery Channel, na National Geographic, nos concursos de foto.
Algumas viraram até objetos de arte, em livros de fotógrafos renomados.
São imagens de miséria que comovem.
São imagens que criam plataformas de governo.
Criam ONGs.
Criam entidades.
Criam movimentos sociais.

A miséria pelo mundo, seja em Uganda ou no Ceará, na Índia ou em
Bogotá sensibiliza.
Ano após ano, discutiu-se o que fazer.
Anos de pressão para sensibilizar uma infinidade de líderes que se
sucederam nas nações mais poderosas do planeta.

Dizem que 40 bilhões de dólares seriam necessários para resolver o
problema da fome no mundo.

Resolver, capicce?
Extinguir.

Não haveria mais nenhum menininho terrivelmente magro e sem futuro, em
nenhum canto do planeta.
Não sei como calcularam este número.
Mas digamos que esteja subestimado.
Digamos que seja o dobro.
Ou o triplo.
Com 120 bilhões o mundo seria um lugar mais justo.

Não houve passeata, discurso político ou filosófico ou foto que sensibilizasse.
Não houve documentário, ONG, lobby ou pressão que resolvesse.

Mas em uma semana, os mesmos líderes, as mesmas potências, tiraram da
cartola 2.2 trilhões de dólares (700 bi nos EUA, 1.5 tri na Europa)
para salvar da fome quem já estava de barriga cheia. Bancos e
investidores.

Como uma pessoa comentou, é uma pena que esse texto só esteja em blogs
e não na mídia de massa, essa mesma que sabe muito bem dar tapa e
afagar.

Se quiser, repasse, se não, o que importa?

O nosso almoço tá garantido mesmo...

sábado, 29 de novembro de 2008

“Fiat-lux”

Eu gostava quando saía da minha casinha, trancava a porta e avistava a casa maior, com a luz do lampião escapulindo tímida pela porta e, às vezes, deixando nítida no chão a sombra de quem estivesse dentro. Talvez porque fosse rústico, diferente dos meus interruptores práticos, banais e eternos de São Paulo, que nunca me fizeram ter a preocupação se haveria querosene para queimar ou não essa noite.

Durante o dia, instalou-se aqui o maior fuzuê enquanto o eletricista Phillip e seu ajudante Tony colocavam para funcionar o painel de captação de energia solar e a bateria para armazená-la, além das tomadas para a turma da região vir recarregar seus celulares*. As paredes de barro de quase 40 anos, que requeriam a cada 2 ou 3 anos uma demão extra de argila, foram derrubadas há alguns meses e trocadas por tijolo e cimento, mais modernos, mais duráveis e, segundo eles, tudo tem de evoluir.

Na hora em que estreei a tomada, li na tela do meu celular “bateria carregando” e confesso que deu uma alegria, recíproca a de todos que ali estavam. Não teriam que pedir mais nada a Ruth (ver posts anteriores), pois o poder estava conosco. Até a bateria do computador eu recarreguei.

Tava achando o máximo até a noite cair e eu perceber que testemunhava um momento histórico, que essas pessoas de mais de 50 anos nunca tinham usufruído de um interruptor na vida e que as crianças (4 e 5 anos), nunca tinham jantado com luz elétrica. O lampião e o querosene se foi da vida. E era isso o que dava para mim um clima romântico, um clima de saudosismo do que eu não vivi, uma coisa exótica. Poxa, talvez isso fosse um dos aspectos que provassem para mim mesmo a cada noite que eu estava no interiorzão do Kenya, perto da fronteira com Uganda e Tanzânia. De repente, luz branca de hospital, o jantar perdeu a magia e as fotos sob a luz de lampião vão ficar pra museu. Os gatos estão assustados com suas sombras refletidas no chão, não as entendem.

Amanhã, prevejo, todo mundo da vizinhança vai chegar mais para conferir a novidade, munidos de seus carregadores de celular e de muitas perguntas e sorrisos. Não terão mais de andar até a casa da Ruth, agora possuem uma alternativa mais próxima (e por que não mais simpática?!).

Michael está contente que só, já que agora vai poder ler à noite, seu horário preferido, quando não está com calor. Jane vai poder cozinhar sem lampião e as meninas vão brincar até mais tarde.

Todos encantados com a luz que o msungo fez chegar, menos ele, que se questiona até que ponto essa gente não era feliz antes, sob as românticas e honestas luzes de querosene. Claro que o preço do querosene aumentava mês a mês, mas tinha seu valor estético, que talvez só o visitante apreciasse. A impressão que me resta é a de que a lâmpada fria nunca vai adquirir a beleza da luz do lampião, nem passando uma eternidade num salão de bronzeamento artificial.

*Instalação do equipamento de energia solar realizado graças a Jane Raper e Neil Stahl, amigos da minha mãe que vivem nos EUA e haviam doado a ela 1300U$ para aplicar numa obra de caridade a sua escolha. Por coincidência era quase a soma exata para a compra do aparato solar e ela optou por me repassar a verba, que foi revertida nesse benefício aos moradores locais. O povo daqui está muito agradecido tanto aos gringos quanto à senhora minha mãe, obrigado.

(The solar energy equipment was installed thanks to Jayne Raper and Neil Stahl, my mother's friends from New York, who provided her with US$ 1.300 to be used in some charity of her choice. By coincidence this was the value of the solar conversor and she decided that since Jayne and her studied African sleeping sickness their whole life it was well spent money in Rusinga Island. And there is no doubt about that!)

domingo, 16 de novembro de 2008

Kenyan first shots


Meus primeiros aluninhos. Nao, eu nao dou aula com o iPod, nesse dia eu tava soh monitorando provas. Alias, nao tem atividade mais chata que essa. Talvez soh monitor de museu e bilheteiro de estacao de trem. Mais alguma?
Mas a experiencia eh demais. No doubts.

Minhas irmazinhas Glorya e Tannya sob a luz do lampiao. Ca entre nos, dorei essa foto.

Diferencas?
Ou como diria Andre Abujamra ''alma nao tem cor''?

Aqui eh pior que Sampa no conceito ''choveu, fudeu''. Atolando geral.

Michael Odula, meu pai keniano. A barriga aqui eh simbolo de prosperidade. Ele ta me incentivando pra eu comer mais, pois assim supostamente os outros me respeitariam mais

Visual de tras de casa... not bad, hein!?

Primeira foto no Kenya... adoro os zoinhos esbugalhados, acho um charrrrme!

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Flexibilidade

Para voce, o que eh ser flexivel?
_ - -

O mundao brinca com a gente... e a gente brinca de volta.

Como quiseres, como quiseres, Maior.
Ponha um sorriso na cara e va'.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Primeiro post a energia solar e web via satelite

Não imaginei que fosse me encaixar tão bem no life style rural e todos se surpreendem quando descobrem que só estou aqui na ilha há uma semana (10 dias no Kenya). Dizem que já ando como eles e que parece que estou aqui há mais de mês. Lógico que com o swahili não estou tendo a mesma facilidade do que com o italiano e não espero nenhum elogio quanto à minha performance no bat idioma deles. É complicado pra caramba, mas as 7 palavrinhas mágicas já saem com desenvoltura.

Não preciso nem dizer que quando eles falam entre eles eu não capisco un cazzo, a não ser uma palavrinha. Essa palavrinha me fez pensar muito como deve se sentir um negro ou um gringo no Brasil. Quando ouço “MZUNGO” eu tenho certeza absoluta que estão falando de mim, pois significa “homem branco” e não há nenhum outro num raio de 10 km ou, no meu caso específico, não vejo nenhum há mais de 5 dias.

Isso gera um efeito psicológico interessante, mas ao mesmo tempo estranho. Como não possuo aqui facilidades da vida urbana como água encanada, banheiro, privada, chuveiro, geladeira e luz elétrica, minha vaidade que já não era proporcional à minha altura, foi de vez pro saco. Até 2 dias atrás, quando fiz a barba (depois de 22; a última vez foi em Atenas na véspera de destruir minha mão esquerda) não havia me olhado no espelho por uma semana. E sinceramente não sei que efeitos o sol tem feito na minha pele, já que o remédio anti-malária tem como um dos efeitos colaterais facilidade para queimar a pele. Bicho, só um pouquinho de UV e parece que você derramou cenoura&bronze ali...

Estou morando no simpático bairro de Kaswanga, em Rusinga Island, perto de Mbita, que é perto de Homa Bay, que é perto de Kisumu, que é longe de Nairobi, que é bem longe de São Paulo. Estou com saudade, mas estou adorando isso aqui.

Bom, sobre o lugar há muito a se falar. Primeiro, que é bonito, na beira do Lago Victoria (onde nasce o rio Nilo, no Uganda), que muda de cor, de azul pela manhã para cor de toddynho ao entardecer. Que moro numa colina há cerca de 1,5km da margem do lago, o que proporciona uma sensacional vista. Atrás da casa sobe uma montanha bem alta, cujo nome não me lembro agora, mas é bem alta, acredite em mim, e estou com vontade de subir nela, só estou esperando o momento (e o guia) certo. É um sítio encaixado entre uma porção de outros, sem nenhuma cerca entre eles. Ou seja, é um tal de bode do vizinho entrando no meu quarto quando eu vacilo e deixo e porta a aberta, burro chorando de hora em hora e vaquinhas com aparência bem saudável (devido aos belíssimos cupins no lombo) mugindo by my door. Isso porque eu só falei no do que é dos vizinhos. As nossas galinhas mereceriam um estudo antropológico abalizado conduzido pelo Prof. Edmilson Neckless, da Fundação Casper Libero. Só digo que a mais suculenta delas passa horas ocupando a melhor poltrona da sala para chocar seus ovos. E ai de quem ousar sentar ali.

As pessoas são a parte importante da coisa. A razão que me faz ficar aqui. Michael Odula é educador premiado pela ONU e o escambau. Já deu palestra, seminário, sermão no mundo inteiro. Era diretor da Tom Mboya High School, onde dei minhas primeiras aulas da vida nessa semana, e tocou o terror naquele monte de adolescentes por mais de 20 anos. Hoje faz parte do board e apita um pouco.
Jane, a esposa dele, é um amor. Inteligente, lava, cuida de duas netas que moram aqui (Tannya e Glorya, 5 e 4 anos, respectivamente), cozinha no fogão à lenha sempre para mais de cinco pessoas, limpa a casa, cozinha de novo e vai na igreja adventista todo dia às 5 da matina. Pô, só de agüentar pastor berrando, aleluias e améns a essa hora, eu já tiro meu chapéu. Mas ela é mesmo sensacional, fala inglês super bem (desconfiem dos meus critérios, por favor. Tenho certeza que a maior parte dos leitores não compreenderia uma frase sequer), é inteligentíssima, faz altas perguntas, é super interesaada pela minha cultura e cozinha muito bem. Só pra dar um gostinho, comi uma das melhores carnes da minha vida há uns 5 dias: picadinho de antílope. É, parece que o bichano tava devastando uma plantação aqui de cima da colina e a turma armou uma armadilha e capturou o animal (eufemismo para matou com um monte de golpe de lança). Bom, o prato é exceção, não regra, então parece que vou ter que me contentar com a degustação única.

As aulas, esqueci das aulas. O calendário letivo mudou esse ano e novas datas foram fixadas, no fim das contas acabei chegando no finalzinho do ano letivo e só pude dar uma semana de aula e não foi pra criançada pequena, mas para um monte de marmanjos num internato colegial há uma meia hora de caminhada daqui. Massa, todos me ouvindo com uma atenção budista, nunca tive atenção assim nem de uma namorada. Tinha liberdade total da diretoria para falar sobre o que quisesse. Ótimo, introduzi de leve (sem trocadilho) com uma rápida historia do Brasil já mostrando nossas conexões com a África e ganhando a simpatia deles. Daí pra frente foi ripa na chulipa, muitas perguntas sobre tudo. Sistema educacional e político brasileiro, desigualdade social, liberdades sobre casamentos poligâmicos e claro, como não poderia deixar de ser, o esporte de Charles Miller. E tome perguntas sobre escolinhas de futebol, apoio do governo (?!?), de onde vem o Ronaldinho e sobre os clubes locais. E como não poderia deixar de ser, fiz uma lavagem cerebral, mostrei os fatos e provei por A+B que o SPFC é o melhor clube do mundo. Converti 160, pastor! Claro que depois falei de coisas serias como AIDS, DSTs, camisola e preservação ambiental. A ordem eram assuntos para descontrair antes da semana de exames finais.
Dado o pedido de todos ao diretor para que eu não fosse embora, acho que consegui entretê-los legal.

Ah, para que você não pense que isso aqui é um fim de mundo sem luz e muito menos sem internet e que estou virando um selvagem só porque já como com as mãos em quase todas as refeições (sim, de couve a peixe, de carne a repolho, tudo com os dedos, só trazem colher quando tem arroz) eu vou te contar que tem a casa da Ruth, há uns 15 minutos de andança daqui, que é a única da área com painel de energia solar. Não preciso nem falar que tem uma fila de celulares para carregar todo dia, né? Mas vou te falar que fico mó constrangido de ir lá porque há uns 5 dias o filho dela foi atropelado por uma moto e tá mal no hospital, com suspeita de traumatismo craniano. Quanta tragédia, né? Bom, a bateria está nas ultimas, minha cama está chamando e amanhã eu tinha pensado em tentar dar uma volta na ilha (tem 40km2), mas a chuva cai macia no teto de ferro e dependendo de como tiver amanhã de manhã, posso me render aos encantos do meu cobertorzinho roubado do avião da British.

E torcer para o filho da Ruth ir melhorando e ela estar de bom humor amanhã quando eu baixar lá com o computador para carregar pela primeira vez. Alguma coisa me diz que eles nunca viram um notebook, e convenhamos que um Mac “mzungo” não é nada discreto para fazer contato de 3o grau.

(texto escrito dia 7/11/2008)

PS: Parabens pra Tali! Minha chefinha querida que me ensinou a tecnica do mata a cobra e mostra o pau. Ou seja, como ja falei demais aqui no blog, ja matei muita cobra e agora falta subir essa fotos aqui pra acabar o servico e para que tenham certeza que eu nao estou na minha casa na zona sul de sao paulo enganando a todos!

PS2: realmente escrito com energia solar, enviado por net via satelite e tem um hipopotamo aqui na minha janela.


-->Ta bom, o hipopotamo eh mentira. ;)

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A copia do email pros meus pais

Recebi muitos emails de apoio e desejando boa sorte desde que cheguei aqui na Africa e coloquei o post abaixo. Entao faco questao de responder a voces com um email tambem.
Saudades
---
Queridos, bom dia!

Preciso escrever mega rapido, so
Sorry nao responder seu belo email a altura... voce sabe como sao esses cybers e os rushs dessa vida. Estou em Home Bay, num cyber muuuuuuuuuuito quente, dormi na casa do pai do victor, o michael e agora estamos indo rumo a RUSINGA ISLAND, que eh onde vou ficar com ele e a esposa Jen. Victor mora em Kisumu, ha 4 horas de viagem pesada de onibus daqui. Kisumu eh a 3a maior cidade do Kenya. Nao achei protetor solar aki, vou pedir pro victor procurar isso em Kisumu e trazer no final de semana.

OK.

O trabalho eh numa escola de high school ateh 19 anos em que o pai do victor era diretor. Nao tem home page, nada disso... Tem meu telefone que vale tanto qaunto o do Victor.

Meu numero eh: 00 254 734 689 650 e deve funcionar na ilha. De vez em quando tem gerador la pra carregar a bateria do celu e soh.

ATENCAO: LA NAO TEM NEM LUZ ELETRICA, INTERNET PROVAVELMENTE SOH DAQUI A 12 DIAS (13/11), QUANDO DEVO VOLTAR AQUI A HOMA BAY (A UMA HORA DE RUSINGA ISLAND).

Estou tendo momentos de grande choque, mas coisas belissimas estao rolando tambem! O povo eh muito bom comigo.
Andei sozinho ontem um pocuo pelas redondezas da casa do michael e foi bem sussa. todos falam olha o Mzungu (o branco), mas depois de um sorriso e umas palavras ficam bem docs e curiosos.

Saudades, e beijocas mil
Filhote

PS: o busao indo de Nairobi pra Kisumu tava a milhao numa reta quando freiou bruscamente. Toos aflitos olharam pra frente, curiosos e assustadissimos. Do meu lado esquerdo passa um casal de zebras que acabava de atravessar a estrada. Estavam apavoradas. Nossa, dae comecou a cair a ficha de onde estou. Antes eu soh tinha visto jegues e cachorros cruzar meu caminho...

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

A culpa é sempre dos outros

Pronto, pus a ultima leva de fotos do Kosovo. E você que é leitor, mas não fica olhando as coluninhas da direita deve até estar pensando que por lá eu continuo. Pois é, você que leu dois post abaixo e viu como o Vanderlei Cordeiro de Lima zicou indiretamente a produção de conteúdo, aqui vai um mea-culpa.
Na verdade é um altrus-culpa.

Sim, eu tava com a mão ruim, mas podia ter tentado por mais fotos pelos menos, talvez as do Kosovo, que ja tavam prontas e legendadas, mas não. Apareceram pessoas no caminho, pessoas, elas sempre elas, a razão da minha viagem. E pessoas tem idéias, e pessoas falam, e eu falo também. E tudo isso requer tempo. E foi isso o que faltou para dar um tapa aqui no blog com calma e carinho que você, leitor (nossa, adoro uns editoriais de revista femininas), merece.

Acabei de fazer as contas, e saquei que deixei o Kosovo no dia 23 e setembro, ou seja, há mais de um mês. Eu até que estava indo bem antes, com uma semaninha de delay só, até eu às vezes acha que estava up to date ou live. Mas daí desandou a coisa. E paciência.
Na hora que der, vou escrever, mas é muito universo novo atrás do outro. Imagina escrever sobre a Turquia quando já se está em Berlim? Pois é, não to reclamando, podia tá escrevendo matéria paga sobre loja de decoração da Teodoro Sampaio e com chefe chato pra editar. Eu sei disso. Tô é feliz por ter tanta coisa legal pra escrever, mas vai ficando pra depois.

Pelas minhas contas ainda quero falar de Turquia, Grécia, Berlin e Londres. e mais episódios e mini-crônicas sobre pessoas desses lugares, que quero dividir com vocês.
Mas dá pra falar sobre a Tate Modern estando num hoteleco no centro de Nairobi? Não é melhor sentir e pensar o lugar onde se está?
O que você (é, você mesmo, meu amigo, parente ou desocupado) acha?

Hotel Central Park, Downtown Nairobi, Kenya, 03h18am

PS: a partir de agora vou deixar atualizada só a coluna dos lugares por onde já dormi, o resto fica muito fora do compasso demais. Talvez quando tiver mais net, menos gente interessante e mais tempo elas voltem a ser atualizadas. Obrigado por me ler.

Live from Kosovo - Parte 3/3

Primeiro clique em Prístina, primeiras impressões. Muitos gatos, muito lixo. Até nos olhos dos felinos se percebe que o lema aqui é sobreviver.

Atentos a tudo e a todos, os corvos infestam o país. Vigiam os que estão embaixo, conectados com a necessidade de se alimentar e procriar. Gritam e irritam. Alguns dizem até que por aqui os corvos de verdade são brancos e andam em Toyotas da mesma cor, com duas letras impressas na porta.

O que é colonização nos dias de hoje?

E tome duas horas ouvindo esses cidadãos pregarem o Islã, exaltando o Ramadan e os ensinamentos do Profeta. Ele leu e releu o ensinamentos, mas confesso ter entendido muito pouco. Primeiro dia em língua albanesa.

Recém nascido, com originalidade e vitalidade de quem percebe o quão precioso é o direito de (re)viver.

Bardh, meu primeiro chapa kosovar, e a namorada Tonjeta (se lê Tonieta), na pracinha em que os conheci matando tempo fazendo uns cliques. Aqui, inglês se aprende ouvindo gangsta rap e Linkin’ Park. E o dele era bem bonzinho.

Chá pra tudo, em especial para matar o frio, que nem o aquecedor consegue direito.

E você, o que vê nesses olhos?

É esporte nacional da terceira idade masculina jogar xadrez. Cada um leva seu tabuleirinho de feltro enrolado e as partidas se estendem por horas. Tentei jogar uma partida contra um desses feras e fui absolutamente massacrado em poucas jogadas, como nunca antes na minha vida de Kasparov tropical. Comecei ali a aprender minhas primeiras palavras em albanês, mas confesso que só o “obrigado”, a aparentemente simples palavra “faleminderit”, demorou uns 3 dias pra entrar na cachola.

Tem em tudo quanto é lugar, mais do que pomba.

Na Alemanha ou no Kosovo? Você diria que são muçulmanos? Que tal repensar seus estereótipos?

Destruindo a velha e surrada escola de contêiner porque...

Os americanos construíram uma nova pra gente, de alvenaria, com pintura e até uma bandeira deles na porta.
Destruindo a velha e surrada escola de contêiner porque...

A termelétrica deixa um perfume delicioso para os moradores da pariferia de Pristina

A diversão dos meninos grandes da periferia é o carrossel que premia quem conseguir pegar o já surrado macaquinho de pelúcia pendurado. O prêmio? Mais uma volta, de graça, para tentar a sorte de novo. Doce ilusão.
O futuro