segunda-feira, 5 de maio de 2008

Sexto sentido na cidade dos céticos



Umas 15hs. Cheguei em Londres. Mas não vim para Londres, nem para a Inglaterra. Eu vim para Cambridge. E só por duas noites. Pode parecer piada, mas essa cidade, além de ser uma das universidades de maior prestigio do mundo, também é meu berço. E como me sinto bem aqui. Sei lá, magnetismo, forças para-normais, cósmicas... o fato é que algo me liga a esse cantinho do mundo.





É um belo cantinho, pequenino, mas charmoso, encantador. E não é só porque eu sou de lá não, hein? Cambridge é uma vilazinha forrada de colleges (espécies de feudos da universidade) com prédios centenários, que lembram castelos medievais. Tudo transpira sabedoria. Não que isso se transmita pelo ar ou pelo berço, vide post anterior, mas que dá vontade de aprender e pensar mais, ah isso dá. Para cima e para baixo senhorezinhos mui elegantemente vestidos, uma gravatinha com o logo de seu college levemente gasta no colarinho. Por algum motivo estranho de admiração, deseja-se que eles não morram nunca, parece que a humanidade perde um pouco de saber.



Fim de tarde ensolarado, futebol no parque e bicicletas virando esquinas. Tudo numa normalidade besta, mas com uma cara muito mais moderna do que eu tinha no meus arquivos. Fazem 12 anos que não piso aqui. O tempo muda as coisas. Infelizmente (perdoe a rima) até a mente. A memória boa tá guardada, envolta numa camada de plástico bolha, que pode até distorcer tendenciosamente. Fato é que eu só tenho flashes bons daqui no meu HD.





O dia seguinte amanheceu horrível, e fiz o seguinte registro no meu caderno de bordo.

Alguma coisa acontece no meu coração quando vejo o King’s College ou a City Market. Cambridge atiça sentidos e memórias aposentadas nos meus arquivos. Tudo se liga, tudo respira docemente lembrança. Nem mesmo os longos 12 anos (que passaram num minuto) sem vir aqui me desnortearam. O que posso dizer é que me sinto hipnotizado por reviver o lugar.
Depois de uma manhã feia, de chuva e frio, o sol saiu e deu o tom do reencontro. Subindo a rua, vi o St.John’s College e sua fachada medieval acariciados pela tímida luz vespertina. Fiquei pairando nas memórias, estupefato. Senti minha vó dando a mão e me conduzindo pelas calcadas, a olhar as vitrines. Tranqüilos, felizes. Lembranças do meu pai, que passou mais de cinco anos por aqui, cuidando do seu PhD e de minhas fraldas. Empurrando o carrinho para cima e para baixo.
Ar, alívio e conforto.





Caminhando pelos jardins do St.John’s, com a Sigh Bridge ao fundo, me senti com 7 anos, correndo por lá, imaginando princesas, arqueiros e Robin Hoods. O college para mim sempre foi um castelo, um espaço de sabedoria dos magos, dragões e bruxaria. A cada passo, minha imaginação brincava com a minha “maturidade”. Voltando aos meus sonhos me sentia à vontade, dono daquele lugar de paredes centenárias e gramados impecáveis. Nessa terra de cientistas, hipóteses e conclusões, eu prefiro brincar de sensibilidade, incerteza e intuição.
E não preciso deixar de ser criança nunca, ainda bem.

Um comentário:

MaMaLuCA disse...

Suas palavras fizeram lágrimas brotar nos meus olhos!