sábado, 6 de setembro de 2008

Adeus Casanova, adeus Taormina

Passei boa parte desse verão europeu carregando bandejas nesse restaurante-bar-pub batizado com o nome do eterno sedutor do século XVIII, Giacomo Casanova. Fiquei sim seduzido com a simplicidade do lugar e a franqueza da chefe Carmen Princiotta, que em nenhum momento negou que paga pouco e que enche garrafas de rum e gyn bons com genéricos paraguaios para lucrar mais um pouquinho.

Mas Carmen era calma, gentil e do alto dos seus 33 anos e pouco mais de 1,60m, marido Lorenzo e dois filhos (o mais velho, Andréa, com 9 e Alessandro 7,5) não tinha a menor pinta de dona de estabelecimento boêmio. Não levantava a voz, nem quando o som tava ensurdecedoramente alto. Não desconfiava de ninguém abrindo o caixa e dando o troco. Não ficava puta à toa. E o melhor: não recusava um bom papo, uma boa história e uma boa explicação/reflexão sobre hábitos sicilianos.

Adorava dividir, seja um queijo mandado da sua cidadezinha por sua mãe homônima e fofa ou uma fofoca sobre os donos dos estabelecimentos vizinhos. Uma lady siciliana com uma cabeça bem internacional, que torcia pelo Brasil nos esportes em que a Itália já havia sido eliminada, mas que vota Berlusconi e não tem vergonha de falar. Aprendi a respeitar isso, porque por aqui todo mundo mete o pau nele, mas ninguém confessa que o elegeu. Minha ex-chefinha não tinha medo e enumerava coisas boas da direita, sem vergonha de falar que contratava imigrantes, pois custam sim mais barato e proporcionam boas trocas de experiências.

Junto com ela, ganhei também uma boa turma de companheiros de boemia, das 19hs até as 4 da matina. Os sobrinhos Antonella e Giovanni, esse último muito inteligente e metido a técnico de futebol, junto coma carinhosa mãe Rosana. Os burgueses gente fina de Paternò e amigos de longa data de Carmen, Fillippo (mi frati Fullippo), Antonia, Vito, Peppes, Maria Vittoria e a simpática, fofa e divertidíssima Annunziatta, filha de senador e tal, mas que fazia shot de cachaça amarradona comigo. Mais valeu muito a pena ficar chegado dessa galera. A coroa Roberta, fofa e querida. Os africanos companheiros de jornada: Abramo e Carmelo, respectivamente Ibrahim e Abidi, Marrocos e Costa do Marfim), que garantiram bons papos e imersão na cultura árabe e africana. Aprendi a contar até cem na língua de Maomé! Praticamente doei minha bike pro Abramo por 20euros na hora de viajar. Pedroca deu uma força no meu último dia e adorou carregar bandeja, limpar mesa e sentir a vibe garçom! Mandou muito bem no help e dividiu os 3€ da gorjeta daquela fraca noite, o que já deu pra pagar o busao pra subir no dia seguinte, o primeiro dindim embolsado por ele na Europa.

Enfim, o Casanova foi uma verdadeira residência para mim, onde não era bem remunerado, mas troquei experiência de vida e cresci muito, seja com papos com nego de todo o mundo ou carregando copos de marghirita na bandeja com fundo aderente gasto. Fui feliz, levarei saudades.

Taormina foi muito gentil comigo, me deu lindos dias e de sol e um bom bronzeado, me deu um mar divino, uma imersão histórica nunca antes experimentada, vista alucinantes, convivência com muito nego doido (vide Umberto di Baviera e seu dog Oliver), comidas boas, a estrada mais linda do mundo descendo do bike, os amanheceres inesquecíveis.
A vida, valeu.

Carmen e eu, bela parceria!

Ô balcão véio de guerra!

Turminha de Paternò: Ricardo, Antonia, Fillippo, Peppes, X e Vitto

A foto que mamãe pediu. Sim, eu trabalhava assim se quisesse. Lá fazia um claor infernal, mesmo à noite.

O balcão: muro romano, mais de 2500 anos, intocável.

Uma das entradas

De cima pra baixo: Rosana, Bianca, Carmen, Antonella, Giovanni e eu

Irmãos africanos: Carmelo e Abramo, um mercante e o outro chef

Umberto di Baviera, também conhecido como A Bicha Carnavalesca e Oliver, o cão que mijava na minha cozinha

PS: e tome foto!

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