sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Nessa terra de gigantes



A primeira coisa que reparei quando desembarquei do ferry na Croácia foi o tamanho dos marinheiros no cais do porto. Não me leve a mal, não sou de reparar em homem, mas foi impossível não notar o quanto aqueles dois pareciam jogadores de vôlei. E o aparecimento de Shreks foi sucessivo durante todos os dias, nem tão feios, nem tão simpáticos.

Minha segunda surpresa foi quando pedi um café e me trouxeram um copo d’água (da torneira, for sure) mas com 3 cubos de gelo dentro. Bicho, sabe há quanto tempo eu não bebo água com gelo dentro? Os italianos não sabiam que gelo serve para fazer algo além de sorvete e granitta. Foi nesse exato momento que comecei a gostar da Croácia e que, consultando meu Lonely Planet, descobri minha primeira palavra em croata e agradeci à garçonete bem interativa: hvala.


Pequenos


Daí apareceu o Mladen, dono do hostel que veio me pegar e que sabia falar inglês. Três palavras, mas sabia. E rádio verbal do cara só tocava: “no prrrroblem”, “Brrrãzil, Brrrãzil” e “Argentinian boy your room”. Confesso que fiquei bem preocupado com essa última parte e já tava achando esse negócio de intercambio cultural o maior cão até chegar na pomposa e recém acabada casa do senhor de sorriso fácil e camisa havaiana aberta até o quarto botão. A mulher dele foi incumbida de mostrar meus aposentos e, após 3 lances de escada e 5 “no prrroblem”, ela abriu a porta e acordou o argentino. Fiquei meio com vergonha e meio rindo (com risadinha de brasileiro sempre à posto pra sacanear um cucaracho). Mas o cara no fim era muito gente boa e, apesar do bafo de Lula depois de tomar Providência, me convenceu a não subir mais na Croácia, porque Split e Hvar nem eram tão bacanas como Dubrovnik. E levou de brinde muitas dicas do Marrocos.

Dos locais, simpatia logo de cara só da garçonete do café do porto e do Mr.Hawaiian Shirt, o resto é meio duro, meio travadão. Só que, como sempre, a técnica do sorriso e das 7 palavrinhas funciona:

- Bog: oi

- Zbogom: tchau

- Molim: por favor

- Hvala: obrigado

- Da: sim

- Ne: não

- Zao mi je: desculpa


E daí o sorriso de volta e a boa vontade é quase certo.

Voltando ao começo: Dubrovnik é a cidade costeira mais ao sul da Croácia, fazendo quase fronteira com Montenegro e Bósnia, e foi definida por Lord Byron como a “Pérola do Adriático”. Depois de três dias pra cima e pra baixo, muito mais pra cima, pois o albergue fica numa pirambeira do nível Santa Tereza e Cosme Velho, posso dizer que ele tinha motivos pra achar isso.


Nesses tempos de olimpiadas e tal, foi engracado parar numa competicao de natacao em mar aberto. Essa russinha ae de cima tinha acabado de nadar 10km.


Depois de 9 horas sacolejando no ferry e da péssima e perigosa idéia de aceitar beber com uns australianos e entornar vinho e cerveja sem saber de onde vinha, coloquei meus pés nesse chão estranho.

O fato é que depois de 4 meses de Itália eu entendia absolutamente tudo o que estava acontecendo e sendo falado ao meu redor e tinha ferramentas de linguagem e autonomia para interagir com tudo. Mas, ao chegar aqui tive que reativar o mode “Marrocos-mundo árabe” de posicionamento em terreno alienígena. O mico já começou na hora em que fui trocar dindim e perguntei para moça do cambio como chamava o dinheiro dela. Tá bom, eram 7 da manhã, eu tenho essa desculpa na manga... Depois veio a história da garçonete simpática, já contada no início do post.


Menino brincando com conchinhas milenares das pedras em frente a casa da sua vo




Como atrações Dubrovnik tem sua cidade velha (Stari Grad), toda feita com pedras de calcário e o piso das ruas principais em mármore, realmente impressiona. Mas o que mais chama atenção são as muralhas, construídas em 1429, que envolvem a cidade e são o único passeio obrigatório. E realmente vale a pena porque se tem uma visão multilateral da cidade e se sente um pouco como um vigia esperando algum exército inimigo aparecer no horizonte. Ah, um dos pôres-do-sol mais lindos da vida, com andorinhas dando rasantes e monitores tentando expulsar os últimos turistas da muralha.


Lara, eu, Catarina e Isael, vulgo Bel (e eu que inventei... portugas nao usam diminutivos)


Visual de Lokrum no final de tarde. Nada abala essa paz, ne?


Fora isso, conheci 3 raparigas portuguesas, Lara, Isabel e Catarina, que tinham se formado há pouco em gestão hoteleira e estavam vindo da Bósnia e, como eu, indo rumo a Kotor, Montenegro. Curtimos a cidade, conhecemos dois americanos, Steve e Ross, e fomos a Lokrum, uma ilhazinha meia boca na frente de Dubrovnik, mas com praia gostosa, mar transparente e pavões e faisões passeando tranquilamente. Nessa minha dieta carente de proteína por motivos financeiros, uma só idéia latejava: “esse faisãozinho dava um belo churrasco”.


???

Quem me conhece sabe que não sou um ás das panelas, mas imagine que ninguém sabia nem ligar um fogão e coube a mim preparar um macarrão na cozinha do albergue. Batizei como fusili à Muralha, com cream cheese, atum e champignon. Até que ficou bacaninha.


Inspiracao ateh pra virar molho de macarrao


Uma foto meio sem nocao...

Sobre os croatas, mais algumas considerações. Notei uma lealdade muito bacana entre as mulheres, uma coisa de se proteger como mulheres e não competir, como no fundo sinto que acontece no meu país. Pude observar também, além das longas pernas e cabelos, que elas se cumprimentam com um só beijo no rosto, ao contrario da Itália. Aqui homem não beija, ainda bem. Mas têm mania de pegar no braço quando vão te falar algo ou explicar alguma direção. Sinceramente só percebo isso como a parte mais quente dos europeus, o sangue tropical do Velho Continente.


Monasterio Beneditino, fonte e avenida principal: Placa Avenue (eles leem "Platsa")


Depois, segui rumo à Kotor, em Montenegro, com umas 3 horas de espera na fronteira. E adrenalina, pois Oda, uma argentina super bacana que conheci no busão, não sabia que precisava de visto. Mas no fim carimbaram e pronto. Sei lá... e eu que fui pra Roma só pra fazer esse visto.

Agora é ver o que espera do outro lado da cerca.



8 comentários:

Unknown disse...

Putz!Que mistureba de nacionalidades por ai...E eu imaginando que o Rio que era uma cidade global hahah!Bonitas fotos

Anônimo disse...

cnUcking brazukqa makaronichka viaggo disbudli. autorathi: donatio Y

Paulo Mortara disse...

De cavanhaque!?
AHhahahaha

Anônimo disse...

Querido Felipe,

Acompanho com prazer a sua viagem e a leitura de seus relatos são sempre ótimas!
Continue!
Beijos
Nana

Unknown disse...

nossa que mar lindo!! delicia!!beijos saudosos,
madrinha

Unknown disse...

OI Felipe, tudo blz? Sou a Dani, nos conhecemos em Dubrovnik pq vc ajudou a minha tia com a bagagem no barco...lembra? e depois ganhou um passeio pela muralha!! passei aqui pra dar uma olhada no seu blog, muito interessante...quero te enviar a foto que vc tirou com a gente lá....pra onde envio?

Felipe Mortara disse...

opa Dani
show

manda no felipemortara@gmail.com

valeu
foi um prazerzao!
beijos

Felipe Mortara disse...

opa Dani
show

manda no felipemortara@gmail.com

valeu
foi um prazerzao!
beijos