quarta-feira, 16 de julho de 2008

Etna Mega Store

O cume fumando e mais outras crateras em erupção, que não dá pra ver

Aquele mito de que vulcão é uma montanha com um buraco em cima de onde saem jatos de lava periodicamente acabou para mim no dia em que subi no Etna. É a o passeio mais manjado aqui de Catânia, 110% dos turistas vão. Trata-se de uma montanha com 168km de circunferência e cerca de 200 crateras, sendo umas 15 ativas. Para ver tudo isso tem um ônibus que sai diariamente às 08h15 da estação central e custa 5,40, e leva até Rifugio Sapienza, de onde se pega um teleférico (27euros doem). Lá em cima tem mais umas duas horas de caminhada numa estrada até a Torre Del Filosofo ou se pega um busao 4x4 por mais um punhado de cash.

No meio da estrada uma casinha, que foi pro saco na erupção de 2001.
Parece aquelas de pedra, de Caxambu.
Repare no verde que brota em cima da lava das erupções antigas.
Compare com a paisagem abaixo. Parece a mesma montanha?

Marte?

Um mapinha é sempre bom; clique para ampliar

Conheci um grupo de estudantes que está fazendo intercâmbio de universidade com o programa Erasmus, gente da Finlândia, Holanda, Grécia, Turquia e Espanha. E foi com eles que encarei a caminhada e depois, graças à maravilhosa idéia do Davide, o espanhol da turma, pegamos um atalho. A maior roubada da vida, perrengue mesmo. Era uma pedreira de uns 300m de altura, super íngreme e com muita pedra rolando. Não dava para seguir a trilha de quem ia na frente, sob o risco de tomar uma rolling stone na testa.

Fridsa e Perita; ventania, derrubou e arranhou meu óculos

Finlândia posando pra Espanha: esse Erasmus é uma suruba estudantil

Escorregava muito e para andar um metro demorava uma eternidade. Moral da historia, depois de uma hora de pedreira chegamos na Torre del Filosofo, segunda cratera mais alta da montanha, já que a central não está aberta a visitação desde 1990, quando um pessoal se matou lá. Completamente estafado curtimos aquela paisagem marciana, acima das nuvens. Respirei um dos melhores ares da minha vida e poucas vezes passava um futum de enxofre. No dia anterior fui com Ermanno, meu “pai” daqui, levar o carro no mecânico de noite e ele mostrou um monte de pontinhos laranja incandescente na montanha. Era uma erupção que tinha começado faziam uns cinco dias. Fiquei adrenalizado, mesmo estando a uns 20km dali.

Visu de uma cratera inativa, tem uns 70m de profundidade

E depois de 15 dias, arranjei um apê que tem um terraço com vista para a montanha, o que me torna um privilegiado, pois além de desfrutar do sempre belo visual, posso ir aprendendo os humores da montanha. Uns 3 dias antes de eu mudar, uma cratera na parte mais baixa entrou em erupção. Da janelinha do sótão da casa da Laura e do Ermanno eu tinha uma bela visão porque a casa deles é na parte mais alta da cidade, mas ficava com o pescoço torto de tanto tempo que passava ali olhando. De dia só se vê fumaça e à noite uns pontinhos vermelhos, como na foto força-barra abaixo.

Vista da cozinha; inspira, viu?
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EXTRA EXTRA EXTRA!!!

Aos 48 do segundo tempo, quando esse post já estava mais que pronto, rolou a tão sonhada caminhada para ver uma erupção de perto. Era a mesma que estava rolando pela janelinha do sótão. Eu liguei no domingo para o Ermanno perguntando se ele não queria ir na terça-feira, pois era meu dia de folga. Ele ficou de ver. Estava corrigindo as últimas provas de recuperação e em cima da hora disse sim. Encontrei ele na Via Etnea, a Avenida Paulista daqui, passamos na casa deles, pegamos Laura, Jéssica e Luna, a dog.

Foi uma hora e meia até chegarmos no estacionamento para o Vale del Bove, de onde parte um monte de trilhas, inclusive a que pegaríamos. Como até o último momento não sabia se iria, acabei esquecendo minha lanterna em casa. E o problema: Ermanno também.

Prova do crime, eu vi

Não havia lua, só Luna, mas a coitada é mais preta que rocha lávica. Depois de uns minutos os olhos acostumam e o passo fica mais firme e assim fomos, montanha acima, começando de 1900m. Já eram 21h30 quando começamos a subir, e a luz da cidade amenizava bem a falta de lanterna.

Jessica, mamma Laura e papa Ermanno; e Luna, esse breu na perna da Laura

Cruzamos 4 grupos no caminho, cada um dava uma duração diferente da trilha, mas todos diziam que dava para ver super bem a colatta lávica. E de fato, depois de uma hora morro acima, com partes de areia e outras de pedregulho-bom-pra-torcer-tornozelo, avistamos aquele rio incandescente, que escorria lentamente há uns 300m de nós, do outro lado de um penhasco.

Ja pus essa foto aqui, mas não dá, adoro ela

Que coisa mais fantástica a Terra cuspir fogo, brasa! Foi uma caminhada inesquecível, pois foi a primeira vez que vi magma de perto, mesmo estando a 300m. Desperta a mesma emoção que descrevi quando vi uma outra erupção uns dias antes, do outro lado da montanha, ao levar o carro do Ermanno para a revisão.
Mas confesso que ali, na montanha, a lava iluminando o breu, o coração bateu bem mais forte.

PS: post escrito em junho; preciso esvaziar meus posts salvos e mandar ver nos novos. Perspectivas de um tempo sem acesso, então: chuva de posts.

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