segunda-feira, 21 de julho de 2008

Por que a Sicília?

Famiglia reunida, niver da Laura, me sinto em casa.
Marco, Maria Pia, eu, Sebastiano, Laura, Jessica e Ermanno

Quando eu falo com alguns amigos no MSN a primeira pergunta que vem depois de “como você tá?” é “e aí, por onde andas?”. É engraçado a decepção de alguns quando eu falo que estou na Itália, ainda na Sicília. “Poxa, mas não era uma volta ao mundo?”
Era. Ou é ainda... Só sei que em setembro o barco anda.

Eu viajei (nas idéias) no começo quando achei que ia ter grana pra isso e mais ainda que conseguiria fazer grana em 2 ou 3 meses trabalhando aqui na Europa. Mas a dura verdade é que sem passaporte você não vai ganhar o suficiente para fazer grana em tão pouco tempo, e essa lição foi aprendida. O mundo é muito mais caro do que eu imaginava, principalmente il Vechio Continente. Se ficar no zero a zero já tá lindo.

Mas então, porque fiquei na Sicília?
A resposta começa no dia 27/05, quando cheguei na casa de Laura Le Metre e Ermanno Spampinato, que conheci via couchsurfing. O plano era ficar uma semana com eles e depois me virar. Mas não foi bem assim que aconteceu. E por que? Porque recebi um carinho que nunca imaginei, fui adotado como um filho, assim como Sebastiano, 20, e Jéssica, 16. E o mais louco é que eu acho que eles dois também perceberam isso. Quando falam comigo ou perguntam alguma coisa sobre os pais, eles não falam “onde está ‘minha’ mãe?”, mas “onde está ‘a’ mãe?”. O adjetivo possessivo não existe e esse simples detalhe me faz sentir irmão deles.

Papai Ermanno, numa foto na primeira semana. Nem parece que tem 55 anos

O que me fez ficar aqui foi o carinho incondicional e a força para ajeitar tudo que sempre recebi. Acho que no total, a semana de hospedagem já virou mais de 30 dias. Eu achei um lugar no centro para morar, aquele que tinha banheiro de baldinho, mas continuava indo pra casa deles uma noite por semana, quando tinha folga no Taarna Irish Pub (o pub 171...). Depois arranjei a casa em Taormina e nessa minha primeira semana aqui já passei mais dias lá do que aqui.

Sim, foi uma exceção, já que uma obturação caiu do meu dente molar durante o trampo, na noite de domingo, como já escrevi na coluna “Roubada”, ao lado. Eles foram anjos nesses dias. Ermanno correu atrás de saber nos hospitais públicos como eu poderia refazer os pedaços que se desprenderam. Uma intervenção desse tipo custa por volta de 200€ num dentista particular. Ligou, falou grosso até achar um setor de atendimento a estrangeiros no Hospital Vittorio Emanuelle. Lá, a signora Di Benedetto (sobrenome homônimo ao de um personagem mafioso do livro que estou lendo) foi quebrando galho atrás de galho e marcou uma consulta.

Ermanno e Jessica, espontaneidade

Tentei ativar o seguro de viagem ISIS, mas tomei a maior canseira ligando pra Dinamarca algumas vezes, mandando fax e tudo mais... Tudo isso pra eles me negarem o pedido, sacanagem. Mas daí ativei minha agente de viagens no Brasil, a Zizi, que foi quem me vendeu o seguro. Ela mandou ver nas chamadas e hoje, depois que eu já tinha sido atendido pelo simpático e bem-humorado Dr.Roberto Scuderi, me disse que ia liberar 250$ para o hospital cobrar. Que bela notícia.

E tudo isso começou graças ao empenho e boníssima vontade de Ermanno e Laura. Bicho, é muito coração e muito amor ao próximo, numa potência que eu talvez não conhecesse antes. São mãe e pai nesse lugar pra mim.

Nonna Maria Pia, sempre veloz e frenética

Barriga de chopp, com muito orgulho e muito amôooor

Cozinha típica siciliana

Fui me sentindo em casa, aprendendo a cozinhar com Laura e a nonna Maria Pia, aprendendo (e curtindo) uma língua que eu sempre reneguei, mesmo sendo a língua mãe do meu avô e ficando muito tempo sem falar português. Assumi tarefas do lar, despertando uma paixão pela vira-lata Luna, me esticando para ver a erupção do Etna pela janelinha do sótão. Bater papos sem pé nem cabeça com o Marco, irmão super carinhoso da Laura. Fui me aproximando de Sebastiano, cujo quarto invadi por tanto tempo, e o tímido moleque já sai pra tomar uma breja comigo e me conta dos dissabores com a gatinha da vez. Apesar de já namorar (e ter sido flagrada por mim com a boca na botija do namorado), Jéssica ainda é uma criança e briga por tudo, com gritos e chiliques. Tem algum problema de dicção, pois eu não entendo um A do que ela fala, às vezes dou uma zoada e peço pra repetir.

Parece que estou vivendo algo que estava escrito, sabe?

Ah, como eu me senti à vontade nessa casa, nessa terra, com o Etna vigiando a todos. É uma energia meio maluca e dia desses veio a informação do meu pai: fui concebido aqui, em 1983. Talvez isso explique alguma coisa.

PS: claro que eu tenho mãe, pai, irmãos e avós no Brasil e no coração, isso aqui é só um devaneio. Sem ciúme, por favor. ;o)

6 comentários:

Anônimo disse...

Fê! que delícia! Tenho um amigo que foi passear na Itália e acabou morando por mais de um ano (se apaixonou por uma italiana, na verdade). e nada mal em dar um tempo na solidão...
um beijo
saudades por aqui

Ju Bellydangelo disse...

hahahah eu sou uma das que te perguntou: por onde andas!? ahahaha ainda hoje o fiz!
Aproveita muito, isso tudo que você ta vivendo por aí, vc vai levar pra sempre... priceless.
Beijosss

Anônimo disse...

Che, sem palavras... tá animal esse teu blog!!!
Valeu pelo comentário lá no meu e parabéns pelas belas fotos, ótimos textos e pela atitude de fazer essa barca!
Boa sorte aê cumpadre!!!
Forte abraço!
Zodi

Unknown disse...

Belíssima história apesar de ser difícil ficar sem passar ciúmes =P
Casa no Guaru topada o/
Bjos

Felipe Mortara disse...

Pô gente, valeu ae pelos comentários. Fico feliz demais de ver pessoas tão diferentes por aqui.

Coisa boa!
Paz a todos, mais papo por email
felipemortara@gmail.com
como sempre

paz

Unknown disse...

fico muito feliz de saber que voce ganhou e continua gabnhando todo este carinho!!! Voce merece! beijos muitos, Bilu