segunda-feira, 21 de abril de 2008

Considerações sobre os marroquinos

“Um povo faz um país”, disse alguém certa vez. No caso do Marrocos isso é verdade, mas uma coisa por aqui é certa: a religião e o comércio dão o tom da nação. Não que seja uma coisa ao estilo Edir Macedo ou RR Soares, que conseguem vender Deus embalado na televisão. Muito pelo contrário, a negociação no reino do Marrocos se dá às claras, pessoalmente e com pausas para a reza.

Fato número 1: todo marroquino é comerciante e se chama Mohammed, Ahmed ou Abdu. Se não se chama assim, então foi enganado pela mãe. Ah, e a mãe é uma figura muito importante na vida do marroquino. Na verdade, ela é uma figura ausente, já que todos são órfãos, pois alguma vez mammah foi sua mais preciosa mercadoria. Com a velocidade que um nativo tenta te vender alguma coisa não é difícil acreditar que ele já deva ter feito um bom negócio em troca de sua progenitora.

Logo, o pai é tudo. Antes de aprender a falar, um bebê local já é pós graduado em negociação. Sabe trocar chupeta por silêncio e leite por sorriso. Itens de série. O conceito de super-faturamento é ensinado sob o véu de “quer pagar quanto”. Prova cabal disso é a ausência absoluta de etiquetas de preço nos produtos. Depois escrevem num recibo qualquer valor acima do verdadeiro, tal qual Dr.Paulo Salim Maluf. Rouba, mas faz. Recibo, claro.

Resuminho: O babba ensina que negociar nada mais é do que conseguir vender algo a um cliente por um preço que ele não deveria estar pagando.

Dito tudo isso, é elementar constatar que o Parlamento do Marrocos e a Fecomércio funcionam no mesmo lugar. E que seu Rei, Mohammed VI, é o feirante-mor, já que ao assumir o trono anos atrás vendeu diversas estatais a grupos europeus. Até aí, tudo bem, pois como bom marroquino venderia até a mãe, se a fachada da rainha valesse um merréu. Mas o todo-poderoso-feirante enriqueceu mais subitamente que o Rafinha do BBB, já que seu pai era celebrado como um rei do povo, sem ostentações nem frescuras. Nesse caso a genética descrita no parágrafo acima falhou.

E já que falamos de mãe, vamos olhar a mulher do marroquino e sua relação com ela. Pelos cantos das cidades, principalmente nos finais de tarde, é comum ver cavalheiros cortejando nobres damas. Sempre a uma distância de segurança, de respeito. Mulher aqui é pra casar, tirando as que gemem nos filmes pornôs, mercadoria valiosa e oculta nas banquinhas de DVD pirata. Quando não é para casar e nem para escutar gemer, serve como pinico: cantadinhas baixas ao pé do ouvido nos mercados.

E por aqui não tem essa historia de mulher magra, não senhor. Finura é lá na Somália, porque aqui nesse canto da África os bruxos conferem o tamanho do dedinho sempre.

EM TEMPO: Aviso às gordinhas do Brasil: tem um mercado fervilhando aqui no reino. Nessa terra vocês serão tratadas como merecem, enchidas de jóias e presentes. De burcas, digo, lindos véus, e muito dinheiro para fazer as compras. Por sinal, no que diz respeito aos alimentos, tudo é feito com pelo menos meio saco de açúcar, para que possam manter a forma que agrada ao habbibi. E pode crer que vai ter que descontar muito no doce, porque na prática nenhum homem consegue fechar o lojinha e ir pro casa. Prova disso: nem um beijinho na boca eu vi por aqui.

Outra vertente da libido masculina por aqui tange às cocotas européias. Tenham elas 20 ou 80 anos. Sim, o Ahmed médio (alusão ao Homer Simpson médio, enunciado por William Bonner) tem aparência moura, estatura média (sempre menor que a Gisele Bündchen) e um secreto desejo pela aposentadoria precoce. Ao ver uma fêmea da espécie europea-ricum-pirañacium os olhos brilham mais que os das tias freqüentadoras do Clube das Mulheres ao ver o primeiro bombeiro de sunga. No fundo, todo mundo quer mais é fazer um pé de meia e parar de negociar. A jovem de 70 anos vira a Angelina Jolie quando deixa mostrar “sem querer” um maço de Dirhams (o real local, vale maiomenos a mema merreca) e um passaporte europeu. Se casar, abre filial do lojinha em Paris, Barcelona ou Marselha. E ainda ganha dimdim do Sarkozy e do Zapatero.

Belo negócio, hein Abdu?

2 comentários:

Square Beast disse...

Fala maninho, blz??...já tava acompanhando suas aventuras e desventuras pelo Marrocos (e o mundo) desde que vc colocou o link no "saudades"...bem loka essa idéia de fazer um blog só pra trip, tipo um diário de bordo mesmo, é bom poder acompanhar vc nem que seja de longe...esse começo de viagem tá sendo um puta aprendizado né? é bom ter uns choques no começo pra depois ficar calejado... é isso cumpadi, fica na paz aí q a gente vai levando aqui,

ABS

Carlos Palmeira disse...

Ae Filipe, fico feliz em ler o blog e saber o que se passa nesta terra tão distante.
Tudo muito louco, mas é esta a dinâmica do país.
Vc descreve bem, é gostoso de ler, continue com o projeto, vejo que dará bons frutos.
Saiba que tem alguém por aqui que torçe por você.
Fica com Deus, se cuida e tudo de bom prá você. Abração.