sexta-feira, 25 de abril de 2008

Encontrando-se no Atlas

Se Marrakesh teve um quê de decepção por ser uma cidade muito comospolita (ou seria esquizofrênica?), ela ganhou num ponto: é o hub mais importante para fazer excursões e conhecer os cantos mais exóticos do Marrocos.
Passeios de 1 a 4 dias se vendem por todas as esquinas e com diversas opções de roteiros e coisas a ver. A variedade de paisagens e atrações espanta. De praia para surfar até neve para fazer snow. De cascata para nadar a deserto para ver miragem. Menu completíssimo.

Entramos numa agência que pareceu grande, a Sahara Expédition. Como o nome bem diz, praia a gente vai no Brasil e neve a gente vê na Zoropa. Fomos é comer areia no célebre deserto, mas antes atravessaríamos os Atlas, a maior cadeia de montanhas africana. O visual prometia, ainda mais depois de ter sido alardeado como o cenário do filme Babel, entre outros. E realmente cumpriu, pois a cada curva da sinuosíssima estrada (não pegamos nenhuma reta com mais de 700m) todos colavam suas câmeras na janela. Ainda bem que fomos na janela do lado certo. O dedo da minha mãe gastou.

E como a paisagem vai mudando!



Éramos 10 no grupo. 8 jovens americanos com idade entre 19 e 21 anos e nós. Um povo gente fina, educados e super viajados. Eles faziam intercâmbio com suas faculdades na França e na Irlanda, e tiraram o spring break para conhecer um país islâmico. Confesso que achei uma senhora atitude essa deles, e me fez acreditar na construção de um Estados Unidos menos burro e mais consciente de que o mundo não é tão umbigo assim. Deu um gostinho saboroso de uma América menos careta e mais internacional no futuro. Essa eh a mão da Mariah, pintada com henna de 3 semanas.



Os Atlas tem picos que passam dos 4 mil metros e diversos a mais de 3 mil. Dá uma tonturinha de leve quando chega lá em cima da montanha, perto do “pass”, que é onde se atravessa de um lado ao outro. Mas o enjôo vem mesmo pela quantidade de curva e pela velocidade excessiva de nosso motorista, cujos cabelos e olheiras eram sósias dos do Saddam Hussein quando foi preso. A neve no alto das montanhas inspira e a pedra do resto da montanha faz refletir sobre os rios secos que passam no vales.



Uma parte do pessoal tirava um cochilo, mas sem sono preferi colocar um “Tim Maia ao vivo” no iPod e ficar bem acordado. A cada intervenção do gordinho eu ria e me lembrava de trechos do livro do Nelson Motta. Me dê motivos tocou e retocou diante dos abismos do Atlas.





As paradas foram se sucedendo até a hora do almoço. O motorista parou num lugar caro (que deve pagar uma caixinha a ele, bien sûr) e todo mundo se reuniu e resolveu achar um outro lugar. Como eu entendia melhor o francês, tomei a ponta das negociações para sentarmos num restaurante e consegui uma barganha boa, com isenção de 10%, comandas individuais e sobremesa grátis. Pedimos o rango, que “demorou mas chegou logo”, como diria meu pai.





Visitamos uma belíssima Kasbah, que é um tipo de fortaleza moura, protegida pela UNESCO. Lugar lindíssimo num valezinho tomado por comerciantes, que vendiam e trocavam desde turbantes até colares por uma caneta BIC ou um lápis. Pena que eu só tinha uma caneta da Lew’Lara, e que era com ela que escrevia no diário.





O vale do Drâa é um lugar esplêndido, de onde vem a maior parte das tâmaras daqui. As tamareiras, que são um tipo de palmeira, brotam por todo o horizonte, dando a impressão de um oásis sem fim.

E por falar em fim, esse texto chega ao fim, porque a viagem continua até Zagora, porta de entrada para a fatia marroquina do deserto do Saara, pertinho da Argélia.

Um comentário:

Unknown disse...

engraçado (ou no mínimo classico né?) mas tenho escutado bastante essa boa música do tim.. fe, queria que você soubesse que apesar de tudo continuo aqui torcendo por essa trip incrível que você está fazendo, os santinhos e as proteções foram e continuam sendo de coração. tenho certeza que tudo isso vai te acrecentar muito espiritualmente, e os reflexos serão profundos e etéreos. beijo