terça-feira, 10 de junho de 2008

Na cidade do Miguel: uma estátua e um teto


Nunca pensei que ficaria tão emocionado ao confrontar meus olhos míopes com uma estátua. Afinal, eles já viram tantas nesses 24 anos de andanças por praças sujas, museus lotados e jardins forrados de bustos. Nossa, meus olhos nunca haviam visto (ou talvez compreendido) uma estátua de verdade, uma coisa monumental. A principio choca pelo tamanho, mas o segundo olhar traz aos olhos aquela perfeição, aquela combinação harmoniosa de curvas e sensibilidade. Poxa, que coisa de viado ficar ½ hora parado olhando uma estátua de 5 metros de altura de um homem pelado contemplando o horizonte à sua esquerda. Além do David , de Michelangelo (ou Miguel, para quem, como eu, deu uma migué e tirou foto apesar dos apelos dos monitores chatos de “No photo! – No picture”) a pequena Galleria Del’Academia possui uma outra sala com outros trabalhos de alunos que é estupenda. A cidade de Michelangelo respira arte como quase nenhuma outra no mundo. Até na xérox em que fui copiar páginas do meu guia tinha um estudante xerocando seus trabalhos.


David, criatura



Miguel, criador

Pronto, agora que falei da primeira coisa que me vem a cabeça quando lembro de Firenze (e que você achou que eu sou uma bichinha louca porque é uma estátua de um macho nu), vou falar da segunda. O teto da catedral, do Duomo. O lugar vale só pelo teto. De fora é imponente sim, bonito, é charmoso e diferente do que se vê como desenho de igreja por aí. Mas por dentro dá uma decepção que vai crescendo até quando você chega debaixo da cúpula, sob o altar. Seu olhos seguem os dos outros turistas, rumo ao céu. E o que se vê é uma pintura de tirar o fôlego a 90 metros do chão. Parece um céu, os personagens te olham, provocam e convidam você a subir. É nessas horas que faz falta não ter nunca lido a bíblia para entender alguns detalhes. Definitivamente o teto de catedral mais bonito da viagem (exceção à Capela Sistina, num post breve), mais que o da Basílica de São Pedro, no Vaticano, projetado por Miguel.


Duomo instigante


Tem gente te chamando pro céu

Bom, a galeria Uffizi é maravilhosa, mas confesso que as duas horas e ½ que peguei de fila pra entrar me tiraram o humor e o pique. No fim, não podia subir com mochila (não tinha ninguém pra falar) e tive que descer tudo de novo, deixar na chapelaria, encarar mais uma fila, explicar pra mais 2 franceses que não podia subir com mochila, subir dois lances de escada e daí começar a conhecer a coleção. Do começo da fila até a primeira escultura foram 3h10. Não tem como estar com a cabeça boa. Pluguei o iPod (que ainda funcionava a essa altura da viagem) nas orebas e parti rumo ao zigue-zague de salões. Lindíssimos, a arte levantou meu astral. Por “arte”, me refiro a Boticelli, Caravaggio, Miguel e Rafael. A Primavera de Boticelli me roubou uma meia horinha e a primeira pintura de Miguel mais uns 20 minutinhos. Um dos museus mais bonitos que eu já visitei, se não o mais completo, sem duvida nenhuma.


Ponte Vechio, a foto clássica de Firenze

Teve um dia meio maluco, fomos parar na igreja de San Marco. De repente papo vai papo vem e ficamos amigos do zelador peruano da igreja, o Simon Pedroza. O cara foi tanto com nossa cara que nos levou apra dar um rolê na sacrisstia e ver obras de arte não aberta ao público. Me senti importante, fora que eu nunca havia entrado numa sacristia antes. E tinha essa imagem de Jesus lindíssima, com um sol batendo. A luz tava maravilhosa. Gracias, Simon!


Não posso esquecer o albergue, Vila Camerata, que era maravilhoso, apesar de ser quase 40 minutos de busão do centro. Era no meio de um bosque, se andava uns 800m da porta até o prédio do século XVIII, com boa parte de sua decoração original. Pertenceu a alguma condessa e tem umas quatro árvores de jasmim, certamente o jardim mais perfumado em que já caminhei.


Teve mais gente pedindo pra tirar foto...

E claro, a cidade de Stallone. Não o Sylvester, mas o Vanderley Silva. Não o Vanderley Silva do vale-tudo, mas o Vanderley Silva gerente da Embratel de Ribeirão Preto, e figuraça que é a cara do homem. Teve nego tiando foto junto, pedindo autógrafo e tudo! Stallone foi companheiro de viagem por mais uma semana, rumo à Roma e Vaticano. Parceiro de jornada ponta firme, graaaaaaaaaaande parceiro, apesar do 1,69m de altura!


Olhos sinceros; salve Jorge, viva Jorge

Não dá para esquecer também os “papais” mexicanos, Jorge y Dulce, que cuidaram de mim e do irmão Stallone no primeiro dia. Rolou uma energia super boa e o portunhol trabalhou bem na cachola. A gente fez um rodízio na fila da Galleria del’Academia e na hora de entrar eu e Sylvester estávamos longe (hein, hein, pegou o trocadalho!?!?) e quando chegamos eles falaram pro guarda que nós éramos filhos deles, hablamos um portunhol, cortamos a fila e adentramos.


Giardino dei rose, achei um banquinho sansacional para uma siesta aqui


Agora, na companhia de Stallone, rumo a Roma. Quem disse que eu tô viajando sozinho?

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