quinta-feira, 12 de junho de 2008

Qual é, merrrrmão? Aqui é Napoli, pô!



Vesúvio, o ativo Pão de Açúcar napolitano

Eu acredito que gente reencarna. Eu acredito que animais reencarnam. E depois de visitar Napoli eu também passei a acreditar que cidades possam reencarnar. Napoli é uma espécie de Rio dos anos 60.

Tem um romantismo imortal que consegue superar o ruído infernal das buzinas e do clima caótico da cidade. E imerso por alguns dias nesse romantismo consegue-se captar coisas subentendidas.


Dolce gusto di Napoli


Olhos no estandarte

Aqui ainda tem aquela coisa da malandragem, ainda tem mais Vespas do que ruas para andarem, ainda tem ladrão que passa em cima da motoca arrancando bolsa, ainda tem um porto funcionando, ainda tem muita gente com muita grana, ainda tem muita influiencia da Máfia, ainda tem o Vesúvio abençoando e amedrontando, ainda tem mulheres charmosas e provocantes, ainda tem lixo jogado pelas ruas, ainda tem pescador que vai e volta todo dia em sua canoazinha, ainda tem foto do Maradona em todo lugar, ainda tem camisa do Napoli para vender em toda esquina, ainda tem a melhor pizza da Itália (pelo menos até agora), ainda tem o maior museu arqueológico do país, ainda tem uma diversidade de frutos do mar enorme, ainda tem um metrô obsoleto, ainda tem um centro histórico caindo ao pedaços, ainda tem um complexo de galerias subterrâneas da época dos gregos e romanos, ainda tem charme. E ainda tem mais.


O diabinho no museu de arqueologia


Atlas, que carregava o mundo no ombro; como a culpa que eu já senti

Rolou uma coisa meio maluca na chegada, pois eu devia encontrar o Zeno, meu anfitrião napolitano, no cais da marina onde ele trabalha. Ele tinha estado o dia todo no mar. Já passavam das 23hs quando eu cheguei ao Borgo Marinaro, ele me explicou onde estava o seu barco, mas simplesmente não dava pra ver nada, pois estava escuro e havia um mar de embarcações. Esperei ele por 50 minutos na frente do Ristorante Transatlântico. Porra, 50 miunutos! Tá bom que eu tô viajando, de boa, mas uma hora de chá de cadeira em pé é um montão, vai? Daí chegou Zeno, com uma aparência meio cansada, abatido. Me mostrou onde estava ancorado o barco. Tirei meu tênis, e o segui. Atravessamos uns 5 barcos até chegar no que ele estava. Era um veleiro pequeno, mas simpático. Haviam outras 4 pessoas a bordo. Ah, bebia-se vinho no gargalo e comia-se maçãs.

Naquele instante, descalço naquele barco, num porto em Napoli, com um monte de gente estranha que eu mal conhecia, bebendo vinho e comendo maçã eu senti algo estranho. Parece que foi ali que me deu um click. Senti que eu estava viajando mesmo, que eu estava no mundo, viajando como eu queria, com o peito aberto para imprevistos e mudanças de rumo.

Na seqüência pintou Antonio, de carro trazendo a simpática vira-lata Meggie, para nos buscar. Fomos até a casa dele, vizinha à de Zeno. Bicho, daí começou a noite surreal.
Uma bandeira gigante da Napoli cobria uma da paredes. As outras, pintadas de azul (cor símbolo do time) levavam pôsteres, faixas e fotos de ídolos. Tinha uma parede toda dedicada ao Maradona, só não tinha um altar por milagre. Uma bela foto de Dieguito com Alemão e Careca dava o tom tupiniquim. Isso tudo num espaço apertadíssimo, no que aprecia ser um estúdio de gravação desativado. Tinha uma mesa e alguma cadeiras. Lá pela uma da matina chegam 3 amigos de Antonio, três senhores, com varias sacolas e uns vinhos na mão. Eles eram garçons do restaurante onde Antonio trabalhava, estavam vindo fazer um happy hour, depois do batente.


A loucura começou quando os caras começaram a conversar sem parar em dialeto napolitano, que não da pra entender um cazzo. Depois de algum tempo eles meio que perceberam que eu tava lá, quase afundando e começaram a falar em italiano. Quando caiu a ficha deles que o Careca era brasileiro e tinha jogado no meu São Paulo, parece que eu virei a mulher mais gostosa do mundo. Todo mundo me deu ouvidos, me perguntava as coisas, sobre o carnaval, a mulherada, o Adriano, o Lula e tal... Tudo isso regado a vinho e queijos que eu nunca tinha nem imaginado. Tinha um tal de formaggio del nonno que era sensacional, comi também um chorizo bem nojento que estava saborosíssimo (perdoem o trocadalho) e um queijinho com nozes fora do comum. Conclusão, não aprendi nenhuma palavra de napolitano, comi bem pacarái, e fui pra casa do Zeno amarradão. No dia seguinte, fiquei impressionado com a casa, era um palacete insano de frente pro mar, no bairo de Possilippo. Tudo isso via Couch Surfing, muito show.




Casa di Zeno, dentro ed fuora

Depois tiveram as amizades, mais festas doidas, mais gente bacana. Carolina, a namorada do Zeno foi muito fofa desde o começo e me apresentou a Sofia, que acabou sendo a salvação, pois o Zeno partiu pruma regata. Ela me hospedou na casa dela por 3 noites! Coração ponta firme, sei la, era idêntica a minha prima Chica, de feição, jeito, tudo. Ficava assustado às vezes.


Sofia e eu, pessoa muito firmeza

Napoli não é obvia e não é difícil não gostar. É fácil achá-la irritante, perturbadora. Mas depois de um momento eu já nem havia mais reparado nas motocas passando a milhão coladas em mim, em vielas estreitíssimas. Me acostumei ao pulsar das coisas no centro antigo, me senti meio estudante de novo (não só nas bilheterias de museu) e mais vivo.

Napoli te deixa mais ou menos como quando você volta do Rio. Leve, bem humorado e com um quê de levar as coisas na boa.

4 comentários:

Unknown disse...

Holy!É a chica da itália!Não conheci o rio em 60 pra falar o que era e o que n era mas realmente devem existir varias semelhanças...Quanto a viagem...Você bem que podia trazer uns quilinhos de comida pra gente aqui ne?=D

Mari disse...

é a melhor pizza do mundo, pode ter certeza disso!!!
beijos

Unknown disse...

ah, consegui o tempo que precisava pra atualizar sua vida no tempo que passou... blog lido e transformado em emoçoes fortes. DEMAIS O SEU ROLE. fico feliz de vc levar nossas (familiares) aventuras pra italia.. curte como se estivessemos por ai contigo, se é que nao estamos em parte... abraços!!!

Felipe Mortara disse...

Irado Fer, irado Ric... pode crer que estou com vocês por aqui, sempre.
Sangue é sangue, rapaziada.

Mari, a pizza tava uma delicia, pena que esqueci de pôr a foto...

muito bom ler comentarios, fico feliz de mais, alivia a saudade um pouco

na paz, fiquem todos,
fe